sexta-feira, 1 de abril de 2016

Os dias lindos
Acontece em abril, nessa curva do mês que descamba para a segunda metade. Os boletins meteorológicos não se lembraram de anunciá-lo em linguagem especial. Nenhuma autoridade, munida de organismo publicitário, tirou partido do acontecimento. Discretos, silenciosos, chegaram os dias lindos.
E aboliram, sem providências drásticas, o estatuto do calor. A temperatura ficou amena, conduzindo à revisão do vestuário. Protege-se um tudo-nada o corpo, que vivia por aí exposto e suado, bufando contra os excessos da natureza. Sob esse mínimo de agasalho, a pele contente recebe a visita dos dias lindos.
A cor. Redescobrimos o azul correto, o azul azul, que há meses se despedaçara em manchas cinzentas no branco sujo do espaço. O azul reconstituiu-se na luz filtrada, decantada, que lava também os matizes empobrecidos das coisas naturais e das fabricadas. A cor é mais cor, na pureza deste ar que ousa desafiar os vapores, emanações e fuligens da era tecnológica. E o raio de sol benevolente, pousando no objeto, tem alguma coisa de carícia.
O ar. Ficou mais leve, ou nós é que nos tornamos menos pesadões, movendo-nos com desembaraço, quando, antes, andar era uma tarefa dividida entre o sacrifício e o tédio? Tornou-se quase voluptuoso andar pelo gosto de andar, captando os sinais inconfundíveis da presença dos dias lindos.
Foi certamente num dia como estes que Cecília Meireles escreveu: "A doçura maior da vida flui na luz do sol, quando se está em silêncio. Até os urubus são belos, no largo círculo dos dias sossegados". Porque a primeira conseqüência da combinação de azul e leveza de ar é o sossego que baixa sobre nosso estoque de problemas. Eles não deixam de existir. Mas fica mais fácil carregá-los.
Então, é preciso fazer justiça aos dias lindos, oferecer-lhes nossa gratidão. Será egoísmo curti-los na moita, deixando de comentar com os amigos e até com desconhecidos que por acaso ainda não perceberam o raro presente de abril: "Repare como o dia está lindo". Não precisa botar ênfase na exclamação. Pode até fazê-la baixinho, como quem transmite boato e não deseja comprometer-se com a segurança nacional. Mesmo assim, a afirmação pega. Não só o dia fica mais lindo, como também o ouvinte, quem sabe se distraído ou de lenta percepção sensorial, ganha a chance de descobri-lo igualmente. Descobre e passa adiante a informação.
A reação em cadeia pode contribuir para amenizar um tanto o que eu chamo de desconcerto do mundo. De onde se conclui: deixar de lado, mesmo por instantes, o peso dos acontecimentos mundiais trágicos, esmagadores, para degustar a finura da atmosfera e a limpidez das imagens recortadas na luz, é um passo dado para reduzir o desconcerto, na medida em que a boa disposição de espírito de cada um pode servir de prefácio, ou rascunho de prefácio, à pacificação, ou relativa pacificação, dos povos e seus dominadores. Em vez de alienação, portanto, o prazer dos dias lindos é terapia indireta.
Pode ser que o desconhecido lhe responda com um palavrão, desses em moda na sociedade mais fina. Não faz mal. Não se ofenda. Ele descarregou sobre a sua observação amical o azedume que ameaçava corroê-lo no íntimo. Livre desse fel, talvez se habilite a olhar também para o céu e a descobrir mesmo certa beleza esvoaçante no urubu. De qualquer modo foi avisado. Já sabe o que estava perdendo: a consciência de que certos dias de abril e maio são mais lindos do que os outros dias em geral, e nos integram num conjunto harmonioso, em que somos ao mesmo tempo ar, luz, suavidade e gente.

Carlos Drummond de Andrade, texto publicado no Jornal do Brasil, 1970.
“Só Gabriela parecia não sentir a caminhada, seus pés como que deslizando pela picada muitas vezes aberta na hora a golpes de facão, na mata virgem. Como se não existissem as pedras, os tocos, os cipós emaranhados. A poeira dos caminhos da caatinga a cobrira tão por completo que era impossível distinguir seus traços. Nos cabelos já não penetrava o pedaço de pente, tanto pó se acumulara. Parecia uma demente perdida nos caminhos. Mas Clemente sabia como ela era deveras e o sabia em cada partícula de seu ser, na ponta dos dedos e na pele do peito. Quando os dois grupos se encontraram, no começo da viagem, a cor do rosto de Gabriela e de suas pernas era ainda visível e os cabelos rolavam sobre o cangote,  espalhando perfume. Ainda agora, através da sujeira a envolvê-la, ele a enxergava como a vira no primeiro dia, encostada numa árvore, o corpo esguio, o rosto sorridente, mordendo uma goiaba.”

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sábado, 14 de maio de 2011

Chegou...

Chegou o grande dia, não é?
Chegou o tão esperado momento.
O momento perfeito para uma grande festa.
Afinal de contas não é todo dia que conseguimos
apagar a tão evitada soma das velinhas.
Elas somam os anos e as experiências.
Multiplicam  os olhares.
Dividem as emoções.
Chega de dar o primeiro pedaço!
Os chapéus com o famoso palhacinho estampado
já não combina mais.
Os interesses agora são outros.
Chegou a hora de decidir o grande instante.
O modelo do carro e a casa mobiliada.
O peso da responsabilidade chegou e com ele
a certeza do prazer que teremos ao saber que
ela é indispensável.
Chegou o momento de recepcionar os convidados
e dar atenção a eles.
Doces e salgados fazem parte da festa.
Da festa da vida.
Pula, dança, esse é o instante.
A festa é sua.
O momento é nosso.
E a vida continua ao som da música que alegra e introspecta
o nosso ego.
Comida espalhada pelo chão e o tapete da mamãe manchado
pela desastrada ação de outrem que passou da conta.
Acontece, não é?
Convidados e a certeza da noite em claro arrumando a bagunça.
O outro dia está chegando e a vontade do recomeço da festa ainda
persiste em ficar.
Mas a certeza de que amanhã será outro dia é mais forte.
Agora sem convidados, sem ornamentação e sem o som preferido,
a festa é só sua!
Festejar é contigo agora.
As companhias você escolherá.
Mas a festa não é opcional...
Dança, grita...
A festa é só sua!
Olha pra trás!
Ainda existe um olhar à tua espera
e um sorriso esperando reciprocidade...
Quer dançar? Dança comigo!
Quer uma nova festa? Experimenta viver com quem
realmente quer te fazer feliz.

Felipe Sobrinho

sábado, 16 de outubro de 2010

eu.. ator principal

A vida quis manter meu status único.
Não aceitei!
Achei melhor eu seguir o meu caminho.
Me tornei o melhor que eu mesmo poderia ser,
pra mim...
Fui convidado pra ser o ator principal.
Ser um ator... consegui um papel na vida!
Onde um dia sou árvore,
Outro dia sou nuvem.
Sou amor,
Sou paixão,
Sou tristeza,
Sou encanto,
Sou você,
Sou eu,
Sou nós,
Sou apenas um,
Sou somente dois,
Sou amor,
Sou paixão,
Sou amor,
Sou paixão,
Sou vida,
Sou eu,
Sou você,
Sou nós,
Sou eu...
Sou o ator principal!


Meu espetáculo nunca acaba...

felipeSobrinho.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Maduro?

Me falaram que eu sou maduro
Mas o que é ser maduro pra você?
Escrever duas ou três palavras
e dizer que você é apaixonado?
Do que adianta as palavras
se quem você ama 
despreza o valor que elas têm?
Será que ser maduro vale a pena?
Eu queria ser uma criança...
mas se tivesse o teu amor
seria a criança mais feliz do mundo...



felipeSobrinho.

Chegou a hora

Há tempos que você sabe
que eu amo você
Sabe que eu sempre te amei
Amei a ponto de querer te amar
todos os dias um pouquinho mais
Mais a ponto de não me ver
Me ver como pessoa simplesmente
Simplesmente me vi como um 
eterno apaixonado
Apaixonado que te esperou 
esse tempo todo
E todo esse tempo você
apenas adiou pra me dizer 
que foi apenas um momento
Momento esse que eu pensei 
que fosse durar uma eternidade
Mas agora eu vejo
que a eternidade estará apenas
na lembrança dos teus olhos
me dizendo que foi apenas um momento...


felipeSobrinho.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010